quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

EVOCAÇÃO Tempos de Guiné

Fez-nos bem pois acabou por nos ensinar a ganhar capacidade de avaliação das situações.
Partiram os velhos três semanas depois, para ficarmos então com a responsabilidade de protecção à zona de BISSUM.

Havia duas unidades de milícia sob o nosso controle, aquela a que chamávamos velha, constituída logo nos primórdios da guerra cuja função específica se restringia praticamente à situação de meros pisteiros, em que uma das suas secções acompanhava sempre as saídas do pessoal branco, todos os dias, sem excepção, na missão específica de vigilância da zona ; e a mllícia nova comandada pelo arrojado INCHUNFLA, jovem que haveria de ganhar o prémio governador pelas qualidades de excelência a nível de comando e acção em combate evidenciadas em operações com enorme grau de dificuldade.
Regra geral, o seu comportamento propiciava a apreensão de armamento representandoum acréscimo de vencimento para todo o grupo que dirigia, bem como um avolumar de louvres que lhe alimentavam o ego mas também provocavam frequentes atritos com alguma população da sua tabanca uma vez que amigos e familiares de alguns membros do PAIGC coabitavam aquele espaço.
Na unica vez que fomos visitados pelo médico do sector, coincidentemente surgiria um confronto entre milícias e população depois de mais uma acção punitiva, com sucesso, levada a cabo por INCHUNFLA e a sua gente.
Um milícia seria violentamente agredido à catanada e mal dera entrada no quartel trazido por camaradas, de imediato, aquele que fôra seu agressor seria também transportado às costas por alguns populares em estado verdadeiramente lastimável, com um buraco no alto da cabeça por acção de outro milícia.
Enterra-lhe a espingarda com tapa chamas e tudo, aapós repestidas pancadas...
Ambas as situações eram de tal forma complicadas que o médico nunca julgou ser possível algum deles escapar com vida àquela noite...
Do milícia tratou o médico, cabendo ao saudoso furriel enfermeiro Antunes fazer o que fosse possível pelo aldeão, aguardando ambos desde o início da noite até ao romper da aurora, uma vez que os helicópteros +para as evacuações não voavam senão à luz do dia.
O certo é que passados escassos doze dias, regressaram ambos, sãos que nem peros, a BISSUM/NAGA. .

Ansiosamente aguardados por todos eram os fins de tarde do quartel.
Para além do facto da temperatura ser mais suportável, surgia o rebuliço da presença das lavadeiras, que para além da roupa lavada e passada a ferro, trazida em coloridas bacias plásticas ou de reluzente metal, transportavam ainda à cabeça um recipiente feito de cabaça (cortavam a metade de cima da dita e ganhavam uma bacia...) com camarão e "bocas" de caranguejo azul com que nos regalávamos a troco de um punhado de pesos.
O reduzido valor que elas pediam pela mercadoria, era, de forma sistemática, alvo de uma proposta ainda mais irrisória, pelo que entendi estipular uma espécie de medida padrão para as transacções que comigo acontecessem, ou seja, definiu-se uma "pesagem" no valor de dois pesos e meio para cada pires de chávena almoçadeira.
A cada dose fazia-se de imediato o pagamento pois não lhes era particularmente fácil o cálculo matemático.
Gostavam de negociar comigo talvez porque o sistema de medida lhes transmitisse um maior sentido de justiça.
Naqueles fins de tarde, os gritos voluptuosos das "bajudas" sempre que alguém mais afoito lhes apertava uma nádega ou beliscava ao de leve um dos mamilos espetados para o céu, o nível de testosterona e adrenalina subia de frma vertiginosa no ar... O sangue fervia nas veias de todos nós jovens de pouco mais de vinte anos.
Relembro a Segunda, a Quinta, a Sábado que para além da "Binta Velha" herdara do furriel que me antecedera... e a Maria, "mulher grande" que permitia alguns avanços...

domingo, 18 de janeiro de 2009

EVOCAÇÃO

Por fim acabariam por confidenciar-nos que afinal a "fraca"( nome por que é conhecida nalgumas regiões do país a galinha do mato...) não passara de um duro e velho abutre.
Como já havia sido mastigado e engolido, e daí não viera mal ao mundo, entendemos dever continuar com a postura de "durões" a quem nada metia medo, muito menos uma galinha- por mais "fraca" que fosse, ou qualquer simples abutre...
À noite, saíamos com os velhos integrando o pelotão que estivesse de serviço para dessa forma irmos conhecendo o terreno, os trilhos melhores e piores.
Davam-se várias voltas em círculos ora largos ora mais apertados, por forma a criar-nos a ilusão dum distanciamento grande, semprenum perímetro de proximidade do aquartelamento sem qualquer risco de ataque ( que eles em fim de comissão não iam arriscar...) , mas convencendo-nos de ser zona a ter em conta...
Passavam a palavra em surdina:- Cuidado, está a deitar! Já aqui "embrulhamos" forte mais de uma vez ...
Claro que nem olhávamospara trás, estendendo-nos, de imediato, ao comprido, no solo que a época das chuvas transformara num imenso lamaçal na zona das palmeiras, enquanto que por sua vez tendo ultrapassado o local, eles o faziam mas já em zona seca...

De regresso ao quartel, gozavam que nem perdidos, pelo visualde lama que os "piras" ostentavam...

EVOCAÇÃO tempos de guiné

sábado, 17 de janeiro de 2009

EVOCAÇÃO

Alguns dos responsáveis portugueses já partiram e estarão agora a dar contas ao Criador dos seus nefandos actos, outros , ainda vivos, queira Deus puni-los com a severidade necessária já que a justiça dos homens, se eximiu das responsabilidades que lhe cabiam...



Quiseram as sortes que nos juntássemos na capital alentejana, essa velha "yeborah" mourisca onde apetece viver, para aí formarmos o batalhão de caçadores 4610/72 que rumaria à Guiné, tida na altura como a pior das três frentes de batalha numa guerra que o nosso país travava contra os chamados movimentos de libertação perfeitamente subjugados aos interesses dos países do bloco leste europeu, se bem que financiados também de forma absolutamente desinteressada por alguns estados nórdicos deste velho mundo que hoje muitos procuram uno, utopia mais que garantida dada a existência de estados com muitas centúrias de vida com povos que uma vez acordados desta anestesia a que foram submetidos por uns quantos políticos desprovidos de bom senso exigirão a reposição do estatuto anterior...

As dificuldades de recrutamento a nível de quadros sentiam-se de forma acentuada nas forças armadas que se viam obrigadas a usar manobras de recurso tais como o acesso de milicianos ao curso de capitães, e, no nosso caso, a entrega do comando do batalhão a um indivíduo perfeitamente desfasado da realidade da guerra do "bate e foge", uma vez que passara demasiado tempo nos quadros da paramilitar força da GNR, desconhecendo o imprescindível "savoir faire"inerente à condução de uma guerra de guerrilha como aquela que nos opunha na Guiné ao PAIGC desde o início da década de sessenta do passado século.

No dia aprazado, treze de Junho de 1972, feriado de Santo António, depois de uma breve especialidade com meia dúzia de disparos na carreira de tiro, umas quantas corridas visando alguma endurance, horas a fio de ordem unida e algum "blá-blá" ... livresco sobre um tipo de guerra completamente estranho a todos nós instrutores, lá embarcamos num voo baptismal para a maioria, chegando quatro horas depois à calorenta e húmida Guiné onde tentaríamos superar as dificuldades, esperançados num regresso a salvo, um ano e meio depois, que acabaria por se saldar afinal num quarteirão de meses prenhes de carências a todos os níveis e uma percentagem de perigosidade grande com vários ataques, alguns dos quais ao arame...

Recebidos com muitos "pius" (praxe é praxe...), lá suportamos o "trinado" até surgir alguém reconhecidamente mais novo que nós no território a quem pudéssemos dirigir igual piropo que nos consolava o ego, cientes de que cada dia passado representava o encurtar do tempo de permanência naquela terra de mosquitos e balas e consequentemente um acréscimo no que respeitava à probabilidade de sairmos ilesos, fisicamente, no fim da comissão...

A coloração da pele e as fardas novinhas em folha não enganavam ninguém...

Na primeira visita a Bissau( fim de semana da chegada) , deixando o ambiente da grande caserna que era o CUMERÉ, tiraram-se as fotografias tradicionais junto aos poucos monumentos existentes, às quais juntaríamos depois outras obtidas no quartel, armados até aos dentes , evidenciando o ar de guerrilheiros de pacotilha que qualquer Rambo actual não desdenharia, para enviarmos à família e amigos...

A cidade, capital que não passava do equivalente a qualquer " vilazeca" de quarta categoria no continente, tinha como locais passiveis de encontro uns quantos cafés com esplanada que nos proporcionavam a possibilidade de matar aquela sede atroz que nos assaltava bem como ir indagando sobre Bissum, a localidade para onde nos haviam destacado.

O suor escorria pelos corpos encharcando camisas e calções que o regimento permitia, uma vez que nada justificava o uso do traje civil, estampada que tinhamos no rosto a condição de "periquitos".

Mal nos sentávamos, surgia invariavelmente o jovem engraxador que teimava em limpar o pó, brilhasse ou não de graxa o calçado...
Um peso, um simples peso que fosse ajudá-los-ia a a ganhar a refeição do dia...

A companhia, segunda, era comandada por um joem capitão miliciano, aparentemente, e só isso, sem a endurance necessária para dirigir as quase duas centenas de homens que a compunham, acolitado por quatro alferes milicianos também, dois primeiros sargentos ( do quadro obviamente...) e quinze ou dezasseis furrieis, classe onde me incluia, cada um mais farto de tropa que o outro, onde na condição de milicianos pouco tempo para além do ano de serviço podíamos ostentar...
Isto para provar da nossa incipiência relativamente à função militar...

Acabaria por se sair bastante bem daquilo que fôra incumbido o homem que emprestara o seu nome à companhia, ganhando juz a um lugar na história, assim lhe queiram fazer justiça os seus colaboradores mais directos dando à estampa uma publicação onde se faça uma resenha exaustiva do trabalho da 2ª C.CAÇ do B.CAÇ 4610/72, o que nem seria difícil atendendo a que a sua condiçao de magistrado poderia abrir portas conducentes à recolha de informação reportando para além da condição estritamente bélica, a vertente social em que sempre se pautou por um relacionamento irrepreensível tyanto a nível de subordinados como de superiores hierárquicos, para além, evidentemente, da ligação da companhia às populações dos difrentes lugares por onde passamos, distribuindo simpatia e uma importantíssima quota de solidariedade, o que terá pesado, estou certo, na nossa saída precoce da mata do Cantanhez ao fim daqueles oito ou nove meses de extremo sofrimento.
Auscultar-se-iam alguns dos seus pares, subordinados, superiores, populares ainda vivos das localidades de aquartelamento onde a convivência salutar foi o sistema implantado, e far-se-ia justiça a um homem que soube garantir durante mais de dois anos , debaixo das difíceis condições condições que uma guerra sempre aporta, um espírito de corpo e de relacionamento entre todos que era digno de encómios.
A prová-lo estão estes almoços que em boa hora Cordeiro e Teixeira, arregaçando as mangas,
acabaram por tornar possíveis.

Aquando da semana de campo do IAO, "Os Terríveis" seriam alvo de uma visita do comandante da republicana que logo ali implicou com o carácter informal do vestuário que ostentávamos, quer ainda com a barba crescida que todos evidenciavam...
Muitas eram as preocupações que nos assaltavam para que o corte da barba tivesse merecido
um cariz de relevância.
O uso regular da lámina deixara de fazer parte do nosso quotidiano.
O bigode branco que hoje ostento é a prova disso mesmo.
Nunca mais o cortei!

A vida dos burocratas militares consubstanciava-se a uns copos de wisky, uns jogos de bridge, canasta, pocker ou mesmo a menos cotada sueca que os ajudasse a matar o tempo de comissão, para além de certas negociatas em que por vezes se envolviam e lhes proporcionavam chorudos ganhos.
Os tiros... raramente os ouviam porque não era hábito o ataque às CCS...
Casos houve, e estou a recordar uma situação muito ventilada de um comandante de batalhão que terá sido punido por Spínola porque mandaria colocar nas picadas, sacos d arroz e camuflaos completos à guiza de tributo que o IN assim corrompido recolhia, como garante para não atacar o quartel onde residia...
O nosso tratava-se de um "manga de alpaca", de um comandante de gabinete, de preocupações restringidas ao visual de parada onde a barba dos subordinados era inspeccionada "à lupa", como se isto pudesse constituir algo de relevante no comportamento do militar em situação de confronto directo, debaixo de fogo...

É preciso que mereçam usar as barbas que ostentam!
Importa que que imitem o antigo governador da Índia, afirmara...

Felizmente fomos enquadrados a outra cidade em termos administrativos ( de Bissorã para Bula, ou vice versa...) razão pela qual deixamos a subordinação directa a tão complicada e básica figura
( para usar a linguagem militar...)

Em Bissau, nos encontros de café com amigos ou amigos de amigos, íamos inquirindo se conheciam BISSUM, recebendo invariavelmente a informação que se tratava de "um buraco no cú de Judas" onde o verbo " embrulhar" era sistematicamente conjugado...
Sem nos tolher a capacidade de raciocínio, o medo foi-nos invadindo.

Rumamos então para BISSUM onde nos receberam com "pius" e alegria a rodos, pois isso significava a saída próxima dos que lá estavam e o seu consequente regresso à vida interrompida em Portugal no tocante a trabalho ou estudos.
A guerra fôra afinal um interregno nas suas vidas.
Para nós começava a contagem decrescente que esperávamos ver chegar bem depressa ao dia D.

EVOCAÇÃO

Atrever-me-ia a sustentar como épica a nossa vivência naquele território num período de tempo superior a dois anos, carentes de tudo, suportando a impiedosa e húmida "canícula" de um clima não talhado para europeus, razão motivadora do encurtamento do período de comissãode serviço, relativamente às outras colónias.

Só que, pouco antes da nossa chegada os "ventos da mudança" que já se anunciavam, levaram a que, em virtude das dificuldades de recrutamento, se mudassem as regras de jogo, para que o esforço fosse estendido de dezoito para vinte e um meses ou mais.

A nós calhar-nos-ia um quarteirão deles...

O afastamento civilizacional a que nos expuseram durante o périplo percorrido, teve o condão de fortificar as relações de amizade numa entreajuda onde o espírito solidário fez escola.
Para ilustrar esta afirmação, recordo a título de exemplo, que em CAFAL-BALANTA, o terceiro grupo, orfão de oficial durante grande período da comissão, encontrou nos furrieis milicianos, onde modesta mas orgulhosamente me incluía , os responsáveis que também faziam serviço de reforço à noite nos postos de vigia.
É que... todos éramos poucos e o esforço deveria ser repartido para dessa forma suavizar os sacrifícios...

Em regressivas viagens que por vezes faço, e que julgo serem comuns a todos nós, dou comigo a "visualizar" os espaços que na altura ocupamos, mormente as COVAS DE CAFAL onde nos colocaram para servir de tampão no local de ataque possível, para protecção à companhia residente, e à qual ficáramos adidos dois grupos (1º e 3º...)
Revejo CAFINE e as edificações feitas à custa de tanto esforço para servir as populações.
Havia que atingir o objectivo de construção de forma a esperar que isso servisse, de acordo com a promessa, como prémio para a saída de local tão mau...
Surge-me o terreiro/parada de FATIM, de onde apressadamente, os cerca de trinta que lá
vivíamos nos escapamos para a mata quando o Silva, sob o efeito do alccol ameaçava matar tudo e todos...
E nós que havíamos passado as "passas do Algarve", não quisemos correr riscos, ficando assim várias horas "fora de portas" sujeitos aos tiros, que embora altos, foram por ele disparados na nossa direcção, bem como aos impropérios com que nos brindou durante esse tempo...
Com o passar do tempo e a diminuição dos disparos, fomo-nos aproximando até darmos com ele, caído de borco, espingarda a seu lado, ressonando ruidosamente...
Fôra "dono e senhor" do aquartelamento durante esse tempo.
Era bom moço o Silva, estava com um esgotamento motivado por nunca ter tido férias passados que tinham sido já cerca de dezoito meses desde que largara a capital alentejana após a formação do batalhão 4610...

Nessa FATIM onde o Boavista originou a "invasão" ao quartel, por parte da população farta de sentir os roubos de cabritos e porcos para as patuscadas do condutor e amigos próximos, e que tivemos muita dificuldade em suster.

Fomos "obrigados" a pagar metade da cabra escondida na vala pois face ao adiantado do mês os
"patuscadores" só arranjaram metade da inflacionada verba que por razões de justiça o proprietário atribuíra `aquele animal sacrificado aos apetites dos ditos...

Relembro BISSUM, os jogos de futebol na parada/terreiro e aqueles fins de tarde buliçosos com a chegada das lavadeiras, em especial as "bajudas" que traziam para além da roupa cheirando a limpo e engomado, um sorriso de provocação, de lascívia, num menear de ancas roliças fazendo subir os níveis de testosterona...
Revejo os milicias, Eusébio, Armando,Inchunfla e outros de quem já esqueci nomes ; vislumbro também os faxinas Sileiba, Maurício, e o pequenino "Sacana" que tinha três nomes ; o da tabanca, Sanhã, o da escola Joãosinho, e o do quartel , que a instâncias nossas e algo envergonhado acabava por proferir... Sacana do Caralho...

Nessa "revisitação" inquiria-me sempre dos seus destinos.

O almoço de confraternização de Junho 2006 proporcionou-me sentimentos antagónicos e desfez as minhas dúvidas quanto ao ocorrido com aquela gente que connosco conviveu largos meses.

Primeiro foi a incomensurável alegria no abraço ao Guinéu Armando, hoje colega de licenciatura em História, de quem o saudoso Lima corajosamente se fez irmão ; depois a tristeza por saber da morte do Barbosa ocorrida pouco antes, e do passamento do Pernicha que dissera presente no ano anterior, como que antevendo este desfecho, despedindo-se assim de todos quantos puderam aparecer em Fátima aquando do almoço ; e finalmente a raiva incontida, reflexo da informação trazida pelo Armando, que durante algum tempo trocara correspondência com familiares, relativamente ao sucedido a todos quantos lidaram de perto com a tropa...
O julgamento sumário dos milícias, e , pasme-se, dos faxinas, meras crianças que a troco de pequenos serviços ganhavam a sua alimentação e uns parcos pesos para além da comida que sobrava no quartel e que levavam para familiares, ÀS ORDENS DE CRÁPULAS GENOCIDAS do PAIGC como Cabral ou Nino, que hoje, graças a fraudulenta eleição, ocupa pela segunda vez a presidência do novel país, e a quem Gama, essa sebosa figura que dirige o parlamento português, então na qualidade de ministro dos estrangeiros, deu asilo político e cobertura, apesar de o saber criminoso de alto coturno, após a revolta intestina que lhe cassara o poder...

Mas a responsabilidade desses hediondos crimes não a imputo , em exclusivo, aos responsáveis referidos, endosso-a também às chefias de Lisboa, militares e políticas, que não souberam, ou
mais grave ainda não quiseram, acautelar as vidas daqueles servidores que, de forma abnegada, ao nosso lado, deram o melhor de si próprios...

Os filmes que a televisão estatal portuguesa passou estes dias sobre a Guiné evidenciam isso mesmo nas entrevistas a Pedro Pires, a um 1º cabo guinéu (da marinha) que afirmou peremptoriamente ter sido abandonado pelo poder político e militar nacionais e alguns
portugueses(?) como Vasco Lourenço na sua pose de "fazedor de revoluções"...

Se suspeitavade perseguição e hipotética prisão relativamente aos milicias, nunca equacionara o quadro de fuzilamento, muito menos para as crianças cujo único crime fôra o de teimar em estar vivos combatendo a fome a troco de pequenos serviços de faxina no quartel.
Infelizmente as valas comuns foram realidade nua e crua...

Onde estão as preocupações do mundo ocidental contra estes crimes monstruosos?
Porque razão os políticos portugueses(?) não exigem averiguaçõesexaustivas sob a égide das Nações Unidas por forma a que se faça justiça?
Estamos perante monstruosidades ao nível das de Bokassa ou Idi Amin...

Porque será que sindicatos e esquerda em geral não mobilizam forças como repetidamente acontecia sob o seu patrocínio quando se reclamava dos direitos humanos no Chile e Nicarágua?

Onde está o "senador" Soares sempre tão activo, e bem, contra Pinochet, Videla e outros ?
Onde está o espanhol (cidadão do mundo como Soares...) Baltazar Garzon " caça Nazis" ?

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

EVOCAÇÃO

Passados que foram mais de seis lustros desde o regresso África, onde durante vinte e cinco longos e penosos meses de alerta contínuo e temeroso, sujeitos à indolência dum tempo que se arrastava, preguiçoso, por infindáveis dias diferenciados apenas pelo simples facto de "embrulharmos", ou não, decidi, reavivando a memória, passar ao papel - usando uma linguagem
simples onde a sextilha foi a poética aposta - alguns dos acontecimentos de uma comissão sofrida algures nessa GUINÉ minguada de tudo menos de mosquitos e balas...

No espaço temporal decorrido desde então, mais alguns partiram juntando-se assim aos quatro que precocemente haviam iniciado a viagem sem regresso.

Quero agradecer a todos o titânico esforço a grande amizade e enorme solidariedade emprestados naquela fase das nossas vidas, razão fundamental para que os medos escondidos sob as fardas, no interior de cada um, pudessem dar lugar à força colectiva, suporte indispensável à transposição dos quotidianos escolhos, que soubemos levar de vencida, sem desfalecimentos, como se de Adamastores se tratasse...